Precisamos conversar sobre sua missão de vida.
- Laise Sancruz
- 28 de abr. de 2021
- 5 min de leitura
Decidi não esperar pelos finais de semana para ser feliz.
Essa é a frase que acompanha minha marca pessoal. Esse é o meu lembrete diário.
Sempre olhei para o modelo de trabalho tradicional como algo que não era para mim, e apenas por esse fato eu carregava a certeza de que abrir uma agência de design era um grande sonho. Por isso, busquei estudos que me fizessem ser uma boa empreendedora, e foi assim que fui parar no MBA de Consultoria Empresarial, diria que esse curso foi o pior investimento profissional que eu já fiz.
Cheguei a realizar esse pequeno sonho, abri a empresa e com ela tive momentos felizes, recheados de aprendizados, porém precisei fechá-la por falta de grana para investir e porque na prática eu entendi que empreender não era um sonho, e sim o modo de trabalho que mais combinava com estilo de vida que desejo.
Quase dois anos depois comecei a me especializar e a trabalhar com branding pessoal, tive novamente a certeza de que me sentia extremamente feliz com a profissão, mas lá no fundo faltava alguma coisa que eu não sabia dar nome. Busquei entender esse sentimento e percebi que inconscientemente eu cobrava que o trabalho fizesse parte do meu propósito de vida. E que erro. Pena que quando me dei conta disso eu já tinha gasto muito tempo e energia preocupada em tapar o buraco da missão de vida e do propósito que a internet vive dizendo que precisamos pra ontem.
Um dia eu estava aleatória no Youtube e descobri um vídeo no canal da Jout Jout, ela entrevistava a Ana Cláudia Quintana, médica, especialista em cuidados paliativos e escritora do livro “A morte é um dia que vale a pena viver”, logo na abertura do vídeo tem um comentário interessante da Jout Jout, ela diz que odeia apresentar alguém dizendo: "essa é fulana que é x e y", segundo ela, todo mundo é sempre muito mais que esse rótulo que costumamos dar, e a Ana Cláudia completa: "Eu acho que é mais gostoso a gente se apresentar pelas coisas que a gente ama fazer." Esse vídeo foi um abraço para todas as ideias que precisavam amadurecer na minha cabeça.
O livro da Ana Cláudia Quintana “A morte é um dia que vale a pena viver”, foi uma grande inspiração para minha marca pessoal, ele dialoga como é sempre um tabu falar sobre a morte e por mais que ela esteja presente no título do livro, o mesmo fala muito mais sobre vida do que sobre a morte. Ele nos faz refletir sobre as dúvidas que temos e sempre iremos ter nessa vida, e que a única certeza é que a morte é um dia que chegará para todos, mas a principal questão é: esse tempo chamado vida está sendo bem aproveitado por cada um de nós?

Trecho do livro “A morte é um dia que vale a pena viver”.
No mesmo vídeo citado acima, a Ana Cláudia diz que quando uma pessoa é diagnosticada com uma doença que ameaça a sua vida, nesse momento ela entende que é totalmente desnecessário ser uma pessoa que ela não é. Além disso, uma das maiores preocupações das pessoas que estão em seus últimos momentos de vida é: "será que vão lembrar de mim?", "o que eu fiz fez diferença?" e "eu queria dizer que eu amo você". A gente não precisa chegar nesse momento para tomar algumas atitudes. Tudo isso me tocou de uma forma que comecei a repensar muita coisa: escolhas, pessoas, projetos e minhas "certezas".
Falar sobre propósito me lembra da animação Soul, que por sinal é o primeiro filme com o protagonista negro da Pixar. A história nos faz refletir sobre missão, talento, carreira e realização pessoal através da jornada de Joe Gardner, um homem de média idade, professor de música, que possui o sonho de ser reconhecido como uma personalidade importante no jazz através do piano. Quando Joe finalmente tem uma grande oportunidade que pode abrir portas para alcançar esse sonho, ele dá de cara com a morte.
No desenrolar da história Joe conquista uma nova chance de voltar a vida e consegue tocar com a banda a qual ele imaginava que o deixaria mais próximo de chegar no pico da sua carreira. Quando o show termina ele demonstra um certo incômodo, então uma outra personagem pergunta para ele o que aconteceu e ele responde: "Eu venho pensando nesse dia a vida inteira e eu achei que ia ser diferente.". Dali em diante Joe percebe que a vida profissional não era o único lugar que ele podia encontrar o seu propósito, que a sua jornada até ali foi mais importante, e enquanto ele estava ocupado focado só em sua carreira, ele deixou de prestar atenção em pequenos detalhes, como nos sentimentos positivos relacionados ao seu falecido pai que ele resgata ao tocar piano.

Nessa cena do filme Joe precisa da ajuda de sua mãe para se apresentar com a banda, porém a mãe dele é contra, ela é da geração que preza estabilidade, carteira assinada, aposentadoria, salário fixo e nos faz refletir sobre como o sucesso pode ser diferente para cada um de nós. Outro ponto que o diálogo nos faz repensar é sobre a importância da remuneração do nosso trabalho, não podemos fugir dessa necessidade.
O filme também mostra a escola da vida, um lugar preparatório para a alma antes de ir para terra, lá se passa a história da 22, uma alma que não tinha interesse de ir para o mundo, ela tinha aula com diferentes mentores (pessoas que foram referências na terra) e mesmo assim ela só se sentia frustrada. No decorrer do filme, ela só encontra sua missão de vida, quando ela tem sua própria experiência sobre o que é estar viva. Isso me fez lembrar de tantas amigas que brigam com si mesmas por sentirem que estão bem longe de encontrar essa missão. É tão problemática essa sociedade que dita que aos 20 anos devemos ter feito isso, e aos 50 anos devemos ter feito aquilo.
Por fim, precisamos entender que hoje não somos os mesmos que ontem e amanhã não seremos os mesmos que hoje. Somos de fases, somos movimento e não faz sentido que a nossa missão nunca possa mudar. Mais importante do que missão, é tratar o nosso tempo como um dos maiores bens nessa vida. É doar tempo para coisas, pessoas e projetos que fazem realmente sentido. Tempo não é dinheiro e nunca será. Desejo que você não espere por seus últimos minutos para finalmente por em prática a principal coisa que você precisa fazer com a sua vida: viver!
Comments