Você está parado vendo a sua vida passar. E a pior parte, é que você não faz nada sobre isso.
- Laise Sancruz
- 31 de mar. de 2021
- 5 min de leitura
Atualizado: 1 de abr. de 2021
Há exato um ano eu desembarcava em Dublin, me lembro como se fosse ontem de como fiquei surpresa com o tanto de verde que pode ser visto ao sobrevoar a cidade. Finalmente havia chegado ao local que tanto sonhei estar e iria começar essa aventura chamada: ser imigrante.
Mas primeiro, preciso contar o processo de decisão para fazer o intercâmbio.
Um dia, eu e uma amiga estávamos em frente ao computador, cumprindo a velha rotina 8h às 18h. Na tela tinham algumas atividades com os prazos prestes a expirar e um total de zero vontade em executá-las. Nossos diálogos eram pautados pela nossa insatisfação profissional e sobre o estilo de vida que gostaríamos de ter. Parecia que nada do que estávamos vivendo fazia muito sentido. Foi quando tivemos a ideia de fazer o intercâmbio.
Entre o momento de idealização e o da assinatura do contrato com a agência foi apenas uma semana. Hoje entendo o motivo de ter tomado essa decisão em um prazo tão curto. Até ali eu já tinha começado uns três projetos profissionais que deixei morrer na praia e feito planos que nem sequer foram passados para o papel. De modo geral, a sensação é que eu havia deixado de criar boas oportunidades por uma mistura de procrastinação, medo e falta de dinheiro. Daquela vez eu precisava fazer diferente.
Até então, o plano do intercâmbio era: estudar inglês, fazer um curso dentro da minha linha de estudo no exterior (design) e voltar para o Brasil com um currículo que me desse oportunidade de atuar em um cargo com um bom salário, em uma empresa que tivesse os princípios parecidos com as meus.
Acontece que existe esse objetivo profissional em relação ao intercâmbio, mas a verdade é que é uma experiência que diz muito mais sobre vivenciar situações que façam você explorar todas as suas potências, qualidades e monstros, que talvez você nem sabia que existiam. Ainda mais quando você é uma intercambista em meio à uma pandemia.
Às vésperas de embarcar em Salvador, o COVID-19 tinha acabado de chegar ao Brasil. Passei quatro dias em Lisboa, antes de aterrissar em Dublin, nesse intervalo de 96 horas o vírus explodiu e quando cheguei ao meu destino final, o Governo Irlandês decretou lockdown no país.
Planos adiados, aulas canceladas e medos ainda maiores.

Essa foi uma das primeiras fotos que registrei da cidade, era o dia do feriado mais importante de Dublin, o Saint Patrick's Day. As ruas estavam vazias e naquele momento muitos de nós ainda pensávamos que a situação em relação à pandemia ficaria melhor em três meses.

Por coincidência, quero dizer, destino, passei uma boa temporada da quarentena morando em uma casa que me permitia acordar todos os dias com vista para o mar. Para mim, que sou de uma cidade litorânea, isso foi um alívio para o coração.
Bom, até hoje eu reclamo das aulas online, considero pouco o avanço que tive nesse período com a língua inglesa. Primeiro porque a experiência da aula presencial é totalmente diferente da aula online. Segundo porque, em lockdown, e morando com brasileiros, diminuem as oportunidades de ter o idioma inserido no dia a dia. Mas eu não tenho o que reclamar das pessoas que cruzaram o meu caminho e dos aprendizados que o subemprego me trouxe.
Um dos meus planos ao chegar em Dublin era dar um tempo de todas as minhas atividades como designer, pois, pela primeira vez na vida, eu estava me questionando sobre minha profissão. Porém, eu só consegui esse tempo alguns meses depois de chegar aqui, pois eu atendia algumas empresas brasileiras como freelancer. Em cerca de cinco meses, eu tive uns sete empregos diferentes na capital irlandesa, desde coletar morangos a retirar copos vazios das mesas em um bar/restaurante. No início eu achava tudo tranquilo, o salário compensava. Quando trabalhei em uma fábrica de chocolate, minha primeira folha de pagamento girou em torno de 1.200,00 euros por 15 dias de trabalho. E foi nesse período que eu tive algumas certezas e descobertas, entre elas:
Não tem outra coisa que eu faça tão bem quanto design como profissão;
Não aceito nada menos que um preço justo em relação ao meu trabalho;
Ter um modelo de trabalho que me dê liberdade geográfica faz parte do plano, mas ter um canto para voltar e chamar de lar é aconchegante;
Fazer a gestão do próprio tempo de trabalho é difícil, mas é o modelo de trabalho mais adequado para o meu perfil;
Já havia passado da hora de criar coragem e começar a executar todos os planos em torno da minha marca e projeto pessoal.
Mas o ponto de “choque de realidade” foi quando concluí que muitas das restrições que eram obstáculos para o meu avanço profissional, eram mentiras que eu contava para mim mesma.
Há quatro anos eu abri um negócio e precisei fechá-lo por falta de capital de giro, na época eu reclamava do meu salário por não conseguir guardar dinheiro. Logo em seguida, consegui um emprego que me pagava um pouco melhor, mas reclamava da minha falta de tempo para os meus projetos pessoais devido à jornada de trabalho extensa. Depois, quando finalmente o meu projeto pessoal (@contesuahistoria.co) havia sido estruturado, passou a me faltar disposição para planejar conteúdo. Naquele momento, decidi deixar para programar o conteúdo da minha marca pessoal quando eu chegasse em Dublin. Justificava para mim mesma que estando aqui eu teria um conteúdo mais interessante.
Agora que o lockdown me colocou em um contexto que me sobra tempo, tenho uma reserva disponível para investir na minha marca pessoal e estou morando no local que anteriormente eu dizia que me ajudaria no planejamento do conteúdo, cá estava eu gastando o meu tempo entre cochilos, cerveja, instagram e BBB. Moral da história: a gente insiste em colocar a culpa nas circunstâncias e no outro, mas a verdade é que muitas das vezes o vilão que nos acompanha somos nós mesmos.
Enquanto convivemos com a preguiça e não damos prioridade aos nossos sonhos, o tempo passa correndo sem oferecer pausa e sem opção de voltar para trás. Entendi que melhor do que ficar imaginando como eu estaria hoje, se tivesse começado há cinco anos, é planejar como estarei daqui a 5 anos. E é por causa disso que este blog está publicado.
A gente precisa respeitar o nosso tempo, abraçar os imprevistos, reconhecer e aceitar as consequências das nossas escolhas. Espero que dessa vez eu não deixe os planos para amanhã, que eu consiga criar uma constância no conteúdo e que em breve eu possa colher os bons frutos desse passo dado.
E você, o que vai escolher hoje? Continuar não priorizando os seus sonhos, ou ir com medo mesmo?
Muito interessante seu texto Laise.
Parabéns